sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

SOU UMA PROFISSIONAL DA SAÚDE.

Pois é.

Ouvi isso a minha vida inteira.
"Você que é da saúde..."
"Pra você que é da saúde..."
"Ah! Mas você é da saúde, né?"

O que isso quer dizer, afinal? "Ser da saúde".

De uma profissão ignorada por muitos e confundida com outras lá  pelos idos dos anos 70 a uma glamourização surpreendente nos anos 90, a Fisioterapia vem se estabelecendo, crescendo e sendo valorizada a duras penas.

Mas o que é ser Fisio? Que papel temos diante dos nossos pacientes? Fico pensando em quantos deles acabam fazendo parte da nossa vida e nos construindo enquanto seres humanos que somos! 

Aprendemos a cada dia. 
A cada dia casos e circunstancias nos levam a repensar nosso saber, nossa conduta, nossos valores, nossa ética.

Mas porque esse assunto hoje? Porque refletir sobre a persona que criamos através da nossa capacitação enquanto "profissional da saúde"?

Perdi um paciente neste fim de ano. Soube agora, nessa semana, que ele havia falecido no dia de Natal. 
Havia me encontrado com ele e a família um dias antes disso. 
Como deixei de clinicar para assumir a Tecnologia Assistiva em período integral no trabalho deixei de atendê-lo. E naquele dia ele havia me visto pelos corredores e fez com que sua mãe me chamasse. Devido a sequelas de Paralisia Cerebral ele não falava mas se fazia entender muito bem. E como! 
Como quase todo quadriespático tinha um temperamento muito forte o que fez nossa relação durante o tempo de tratamento ser bastante difícil. Mas ele sabia que eu o amava , assim como amo todos os meus pacientes. Ele sabia, e eu deixava isso bem claro a ele e à sua mãe, que eu fazia tudo ao meu alcance para que ele tivesse uma qualidade de vida e alguma melhora no seu quadro.

Quando recebi a noticia de sua morte, me veio à mente a alegria que ele demonstrou ao me ver naquele dia. Sua felicidade demonstrada por toda a sua expressão corporal ficou gravada em minha mente e disse ao meu coração que valeu a pena. Que de alguma forma eu havia deixado uma marca em sua vida, tão curta.

E é isso que é ser da saúde. Altos e baixos, alegrias e tristezas, sucessos e derrotas. Vidas que passam por nós e que merecem de nós  amor,  cuidado e  respeito. 

Muitas vezes choramos diante do insucesso, da progressão de uma doença degenerativa, de um diagnóstico, da morte.

Mas nos refazemos em seguida porque nossa vida é isso, persistir, tentar, resistir. É olhar adiante e antever um progresso que muitas vezes ninguém vê. 

Hoje estou triste. Mas feliz porque sei que fiz o meu melhor. 
Que seja assim, sempre.

À família do meu paciente, todo meu carinho. 

abraços

Nilcea Trigo <><<







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